Prayer in Public
ORAÇÃO EM
PÚBLICO
Às vezes a vanglória dos episcopais é que os membros da igreja oficial
vão aos seus templos para orar e prestar culto a Deus, mas os dissidentes (os
das igrejas livres) simplesmente se reúnem para ouvir sermões. Nossa réplica a
isso é que, conquanto possam existir alguns crentes professos culpados deste
mal, não é verdade quanto aos filhos de Deus que nos cercam, e pessoas desta
estirpe espiritual são as únicas que realmente apreciam a devoção, em qualquer
igreja. Os crentes de nossas igrejas se reúnem para prestar culto a Deus, e
nós afirmamos, e não hesitamos em
afirmá-lo, que se eleva tanta oração verdadeira e aceitável
em nossas reuniões não-conformistas regulares, como nas melhores e mais
pomposas realizações da Igreja da Inglaterra.
Além disso, se aquela observação tiver o propósito de fazer supor que ouvir sermões não é
cultuar a Deus, funda-se em grosseiro engano, porquanto ouvir corretamente o
evangelho é uma das partes mais nobres da adoração ao Altíssimo. É um exercício
mental em que, quando
corretamente praticado, todas as faculdades do homem espiritual são chamadas
à realização de atos de devoção. Ouvir reverentemente a Palavra exercita a
nossa humildade, instrui a nossa fé, engolfa-nos em raios de fulgente alegria,
inflama-nos de amor, inspira-nos zelo, e nos
eleva até o céu.
Muitas vezes um sermão tem sido uma espécie de escada de Jacó na qual
vimos os anjos de Deus subindo e descendo, e a aliança de Deus no alto dela.
Temos sentido com freqüência quando Deus fala através dos Seus servos ao íntimo
das nossas almas. "Este não é outro lugar senão a casa de Deus; e esta é a
porta dos céus." Temos engrandecido o nome do Senhor e O temos louvado de
todo o coração, enquanto Ele nos tem falado mediante o Seu Espírito, que Ele
deu aos homens. Daí, não existe aquela larga diferença entre a pregação e a
oração, que alguns querem que admitamos; pois a primeira parte da reunião
funde-se brandamente com a outra, e freqüentemente o sermão inspira a oração e
o hino.
A verdadeira pregação é uma aceitável adoração a Deus pela
manifestação dos Seus atributos graciosos. O testemunho do Seu evangelho, que O
glorifica preeminentemente, e ouvir com obediência a verdade revelada, são uma forma aceitável
de culto ao Altíssimo, e talvez uma das mais espirituais de que se pode ocupar
a mente humana.
Não obstante, como nos diz o velho poeta romano, é certo aprender dos
nossos inimigos, e, portanto, talvez seja possível que os nossos oponentes
litúrgicos nos tenham indicado o que em alguns casos ocupa má colocação em
nossos cultos públicos. É de temer que
os nossos exercícios espirituais não sejam, em todos os casos, modelados da melhor
forma, ou apresentados da maneira mais recomendável. Há salões de culto em que
as súplicas não são nem tão devotas, nem
tão fervorosas como desejamos; noutros locais o fervor vem tão aliado à ignorância, e a devoção tão
desfigurada pelo linguajar bombástico, que nenhum crente inteligente pode
entrar para partilhar do culto com prazer.
Orar no Espírito não é praticado universalmente entre nós, como também
nem todos oram com o entendimento e com o coração. Há lugar para melhoramento, e em algumas
partes há imperiosa exigência disso. Permitam-me, pois, amados irmãos,
acautelar-vos contra o perigo de estragarem os cultos com as suas orações.
Tomem solenemente a resolução de que todas as atividades do santuário haverão
de ser da melhor qualidade.
Fiquem certos de que a oração espontânea é a mais bíblica, e deve ser
a mais excelente forma de prece pública. Se perderem a fé no que fazem, nunca o
farão bem. Portanto, ponham na cabeça que perante o Senhor vocês estão
prestando um culto de maneira autorizada pela Palavra de Deus e aceita pelo
Senhor. A expressão "orações para ler" a que estamos acostumados, não
se acha na Escritura Sagrada, rica de palavras como ela é para a transmissão de
pensamento religioso; e a frase não está lá porque a coisa de que trata nunca teve
existência. Onde, nos escritos dos apóstolos se acha a idéia pura e simples de
uma liturgia?
Nas assembléias dos primeiros cristãos a oração não se restringia a nenhuma
fórmula de palavras. Tertuliano escreve: "Oramos sem ponto porque do coração". Justino
Mártir descreve o ministro dirigente fazendo oração "de acordo com sua
capacidade".
Seria difícil descobrir quando e onde começaram as liturgias. Sua introdução foi gradativa e,
segundo cremos, em paralelo com o declínio da pureza da igreja. A introdução
delas entre os não-conformistas – isto é, entre as igrejas livres, não oficiais
– assinalaria a era do nosso declínio e queda. O assunto me tenta a dilatar-me,
mas não é o ponto em foco, e, portanto, passo adiante, anotando apenas que
vocês encontrarão a matéria referente às
liturgias habilmente tratada pelo Dr. John Owen, a quem farão bem em consultar.
Compete-nos provar a superioridade da oração improvisada, fazendo-a
mais espiritual e mais fervorosa do que a devoção litúrgica formal. É uma
lástima quando o ouvinte é levado a observar: "O nosso ministro prega
muito melhor do que ora". Isto não está de acordo com o
modelo de nosso Senhor. Ele falava como nenhum homem jamais falou; e
quanto às Suas orações, tanto impressionaram os Seus discípulos que eles
disseram: "Senhor, ensina-nos a orar". Todas as nossas faculdades devem
concentrar as suas energias, e o homem completo deve elevar-se ao ponto máximo
do seu vigor, quando estiver orando em público, sendo nesse ínterim batizado na
alma e no espírito com a Sua sagrada influência.
Mas a fala desalinhada, negligente e sem vida à guisa de oração, feita para
encher certo espaço de tempo durante o culto, é tédio para o homem e abominação
para Deus.
Se a oração espontânea tivesse sido universalmente de categoria mais elevada, nunca se teria
pensado numa liturgia, e as fórmulas de orações atuais não têm melhor desculpa
do que a debilidade das devoções improvisadas. O segredo está em que não somos
realmente devotos de coração, como deveríamos ser. A habitual comunhão com A
Discourse Concerning Liturgies and their Imposition(Discurso Sobre Liturgia e
sua Imposição), Vol. XV,
Owen's Works, Goold's Edition.
Deus deve ser mantida, ou senão as nossas orações públicas serão insípidas
ou formalistas. Se não houver degelo das
geleiras nas escarpas da montanha, não haverá arroios descendo para
animar a planície. A oração em secreto é o terreno amanhado para as nossas
ministrações públicas. E não podemos negligenciá-la por muito tempo sem
ficarmos desajeitados quando estivermos diante do povo. As nossas orações nunca
devem rastejar; devem alçar vôo e subir.
Temos necessidade de uma estrutura mental celeste. As nossas petições dirigidas
ao trono da graça devem ser solenes e humildes, não petulantes e ostensivas,
nem formalistas e negligentes. A maneira coloquial de falar está deslocada,
diante do Senhor; devemos inclinar-nos reverentemente e com o mais profundo
temor. Podemos falar sem embaraço com Deus, mas Ele ainda está no céu e nós na
terra, e devemos evitar toda presunção. Na súplica nos colocamos peculiarmente
diante do trono do Infinito, e, como o cortesão assume no palácio real outros
ares e outros modos, diferentes dos que exibe a seus colegas da corte, assim
deve ser conosco.
Nas igrejas da Holanda observamos que, tão logo o ministro começa a
pregar, todos os homens põem o chapéu, mas no instante em que passa a orar,
todos tiram o chapéu. Este era o costume
nas igrejas puritanas mais antigas da Inglaterra, e perdurou com os batistas.
Usavam seus gorros durante as partes do culto que entendiam que não eram propriamente
atos de adoração, mas os tiravam lago
que havia uma direta aproximação a Deus, no hino ou na oração. Considero
imprópria a prática, e errôneo o seu motivo. Tenho insistido em que a distinção
entre orar e ouvir a Palavra não é grande, e estou certo de que ninguém iria propor retorno ao velho
costume ou à opinião da qual ele é indicativo.
Contudo, há uma diferença, e, considerando que na oração estamos falando
diretamente com Deus, mais do que procurando a edificação dos nossos
semelhantes, temos que tirar os sapatos dos
pés, pois o lugar em que estamos pisando é terra santa..
Compilado por Cleber
Renato
Artigo Extraído do
Livro: Lições aos Meus Alunos. Vol- 2 de C. H. Spurgeon
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