PROGRESSO MINISTERIAL
NECESSIDADE DE
PROGRESSO MINISTERIAL
Caros soldados, companheiros meus! Somos poucos,
e temos violenta luta diante de nós.
Portanto, é preciso fazer que cada homem renda o mais possível e seja
estimulado até o ponto máximo das suas energias. É desejável que os ministros
do Senhor sejam os elementos de vanguarda da igreja. Na verdade, do universo
todo, pois a época o requer. Portanto,
quanto a vocês, em suas qualificações pessoais, dou-lhes este moto: "Sigam
avante." Avante nas conquistas
pessoais, avante nos dons e na
graça, avante na capacitação para a
obra, e avante no processo de amoldar-se
à imagem de Jesus. Os pontos de que tratarei a seguir começam da base e seguem
linha ascendente.
1. Primeiro, diletos irmãos, acho necessário
dizer-me a mim e a vocês que devemos ir avante em nossas aquisições
intelectuais. Não nos serve de nada apresentar-nos continuamente diante de Deus
em nossa pior forma. Não somos capazes de apresentar-nos na melhor forma aos Seus
olhos. Mas, custe o que custar, não permitamos que a oferta seja mutilada e
manchada por nossa preguiça. "Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu
coração" é, talvez, mais fácil de aceitar do que amá-Lo de todo o
entendimento. Contudo, precisamos dar-lhe a
nossa mente, bem como os nossos afetos, e essa mente deve estar bem suprida, para que não Lhe ofereçamos um cofre
vazio. O nosso ministério exige a mente.
Não insistirei sobre "o iluminismo da
época." Todavia, é mais que certo que há um grande avanço entre todas as
classes, e que haverá maior ainda. Já se foi o tempo em que os discursos
destituídos de gramática eram satisfatórios para o pregador.
Mesmo num povoado rural onde, segundo a tradição,
"ninguém sabe nada", não falta o mestre-escola, e a falta de instrução
perde utilidade mais que nunca. Pois, enquanto o orador quer que os ouvintes lembrem
o evangelho, lembrarão por outro lado as suas expressões
gramaticalmente péssimas, e as repetirão como temas
para gracejos, quando queríamos que conversassem com solene fervor sobre as doutrinas
divinas. Caros irmãos, precisamos cultivar-nos ao máximo. E devemos fazê-lo,
primeiro, reunindo o máximo de conhecimentos, para encher o celeiro; depois
adquirindo discernimento para joeirar tudo que foi amontoado; e finalmente,
exercendo a capacidade mental de firme fixação na memória, pela qual podemos
armazenar no celeiro o cereal selecionado. Pode ser que estes três pontos não
tenham importância igual, mas são todos necessários ao homem completo.
Digo-lhes que devemos fazer grandes esforços para adquirir
informação, principalmente de natureza bíblica. Não devemos limitar-nos a um
tópico do estudo, do contrário, não exercitaremos nossa plenitude mental. Deus
fez o mundo para o homem, e dotou o homem de
mente destinada a ocupar e usar o mundo todo. É o
locatário, e a natureza é por um pouco de tempo a sua casa. Por que haveria de
privar-se de qualquer dos seus quartos? Por que negar-se a saborear alguma das refeições
tornadas puras que o grandioso Pai colocou sobre a mesa?
Contudo, a nossa principal atividade é estudar as
Escrituras. A principal ocupação do ferrador é ferrar cavalos. Que trate de saber
fazê-lo bem, pois, ainda que fosse capaz de cingir um anjo com um cinto de ouro,
falharia como ferrador se não soubesse forjar e fixar ferraduras. Pouco
vale que vocês sejam capazes de escrever poesia
como maior brilhantismo, como talvez o sejam, se não puderem pregar um bom sermão,
persuasivo, que produza o efeito de fortalecer os santos e convencer os
pecadores. Estudem a Bíblia, diletos irmãos, de capa a capa, com toda a ajuda
que possam obter. Lembrem-se de que agora os recursos ao alcance dos cristãos
comuns são muito mais amplos do que no tempo dos nossos país. Portanto, vocês
têm que ser maiores especialistas em Bíblia, se pretendem manter-se diante dos
seus ouvintes, Interponham todo o conhecimento, mas, acima de todas as coisas, meditem
dia e noite na lei do Senhor.
Instruam-se bem em teologia. Não reparem na
zombaria daqueles que a criticam porque nessa esfera são ignorantes. Muitos pregadores não são teólogos. Daí os
erros que cometem. Não fará mal algum ao mais galhardo evangelista se ele
também for bom teólogo. Talvez seja este, com freqüência, o modo de livrá-lo de
erros crassos.
Hoje em dia ouvimos homens que recortam uma frase
da Escritura, isolando-a do seu contexto, e bradam: "Eureka! Eureka!", como se tivessem
achado uma nova verdade. No entanto, não descobriram um diamante, mas, sim, um
caco de vidro. Se fossem capazes de comparar coisas espirituais com
espirituais, se compreendessem a analogia da fé, e se estivessem familiarizados
com o santo saber dos grandes estudiosos
da Bíblia que o passado conheceu, não se apressariam tanto em jactar-se do seu
conhecimento maravilhoso. Tratemos de inteirar-nos completamente das grandes
doutrinas da Palavra de Deus. Exponhamos com poder a Escritura. Estou certo de
que nenhuma forma de pregação durará tanto, ou edificará tão bem uma igreja
como a pregação expositiva. Renunciar
totalmente o discurso exortativo pelo expositivo seria precipitar-se a um
extremo absurdo. Mas, não serei capaz de
exagerar ao afirmar-lhes categoricamente que, se os seus ministérios hão de ser
duradouramente úteis, vocês terão que ser expositores. Para isso, deverão
compreender pessoalmente a Palavra, e deverão ser capazes de comentá-la de modo
que as pessoas sejam edificadas por ela.
Irmãos,
manejem com domínio as suas Bíblias. Sejam quais
forem as obras não examinadas por vocês, sintam-se em casa com os escritos dos
profetas e apóstolos. "A palavra de Cristo habite em vós ricamente."
Uma vez dada precedência aos escritos inspirados,
não negligenciem nenhuma esfera do conhecimento. A presença de Jesus na terra
santificou os domínios da natureza, e o que Ele purificou não chamem de impuro.
Tudo que o Pai fez lhes pertence, e vocês devem aprender disso. Podem ler o
diário de um naturalista, ou da viagem de alguém, e tirar proveito dessa
leitura. Sim, e mesmo de um velho livro sobre ervas ou de um manual de alquimia
poderão colher mel, como o fez Sansão da carcaça de um leão. Há pérolas em
conchas de ostras, e frutas em galhos espinhentos. As veredas da verdadeira
ciência, particularmente da historia natural e da botânica, destilam gordura. A geologia, enquanto fato,
e não ficção, está repleta de tesouros. A historia – esplêndidas são as visões
que faz passar diante de vocês – é a eminentemente instrutiva. Na verdade, cada
rincão dos domínios de Deus na natureza pulula de preciosos ensinamentos. Sigam as trilhas do conhecimento, de acordo
com o tempo, a oportunidade e os dotes particulares de que disponham. E não hesitem
em fazê-lo por causa de alguma apreensão de que se instruirão a um nível
demasiado alto.
Quando a graça for abundante, o saber não os
inchará, nem prejudicará a sua simplicidade no evangelho. Sirvam a Deus com
o grau de educação que tenham, e dêem
graças a Ele por soprar por meio de vocês, se são buzinas de chifres de
carneiro. Mas, se há possibilidade de se tornarem trombetas de prata, prefiram
isto.
Já disse que devemos aprender a discernir, e agora é o momento oportuno para
insistir neste ponto. Muitos correm atrás de novidades, encantados com toda e
qualquer invenção. Aprendam a julgar a verdade e as suas imitações, assim, não
serão desencaminhados. Outros há que se apegam como certos moluscos a velhos
ensinos, sendo que talvez estes não passem de erros antigos. Submetam à prova
todas as coisas e retenham o que é bom. Deve-se recomendar muito o emprego do ventilador
e da peneira para joeirar. Diletos irmãos, quem pede ao Senhor que lhe dê vida
límpida com a qual veja a verdade e distinga os seus frutos, e, graças ao
constante exercício das suas faculdades, obteve capacidade para julgar
acuradamente, está preparado para ser comandante de hostes do Senhor. Mas, nem
todos são assim. É doloroso observar
quantos estão prontos para abraçar qualquer coisa, bastando que
lhes seja apresentada com ardor. Engolem remédios
de todo e qualquer charlatão espiritual que tenha suficiente convicção mascarada
para parecer sincero. Não sejam crianças assim no entendimento, mas submetam
tudo à prova cuidadosamente, antes de aceitá-lo. Peçam ao
Espírito Santo que lhes dê o dom do discernimento,
de modo que possam conduzir os seus rebanhos para longe das campinas venenosas
e levá-los a pastagens seguras.
Quando, no devido tempo, tenham obtido a capacidade
de adquirir conhecimento e a aptidão para discernir, busquem em seguida a capacidade
para reter, e segurem com firmeza o que aprenderam. Nestes tempos certas
pessoas se vangloriam de ser como cata-ventos.
Não conservam nada. Na verdade, nada possuem que
valha a pena reter. Creram ontem naquilo
em que não crêem hoje, nem crerão amanhã. E seria um profeta maior do que
Isaías quem conseguisse dizer o que eles crerão quando o recôncavo da lua nova
se encher, pois estão mudando constantemente. Parecem ter nascido sob a
influência da luz, partilhando dos hábitos de sua variação. Esses homens podem
ser sinceros como se dizem, mas, de que valem? Como boas árvores transplantadas
muitas vezes, podem ter natureza nobre, mas nada produzem. Sua vitalidade esvai-se
no esforço por criar raízes e tornar a criá-las. Não têm seiva
suficiente para produzir frutos. Estejam certos de que
têm a verdade e, depois, estejam certos de que a mantêm. Estejam prontos para
uma nova verdade, desde que seja verdade. Relutem, porém, em subscrever a crença
de que se encontrou uma luz melhor do que a do sol.
Os que apregoam pelas ruas novas verdades, como os
jornaleiros fazem com uma segunda edição de um vespertino, geralmente não estão
em condição melhor do que deveriam. A bela jovem da verdade não pinta as faces,
nem enfeita a cabeça como Jezabel,
seguindo cada nova
moda filosófica. Contenta-se com sua beleza natural,
e seu aspecto é essencialmente o mesmo ontem, hoje, e para sempre. Quando os
homens mudam com freqüência, em geral precisam ser mudados no sentido mais enfático.
A nossa boa gente de "pensamento moderno" está fazendo incalculável
dano às almas, semelhante a Nero tocando rabeca no alto de uma torre com Roma a
queimar-se aos seus pés. Almas estão sendo condenadas, e, contudo esses homens
ficam traçando teorias.
O inferno escancara a boca, e engole miríades, mas
os que deviam estar espalhando as boas novas da salvação "andam atrás de
novas 1inhas de pensamento." Cultíssimos assassinos espirituais, verão que
a sua alardeada "cultura" não lhes servirá de escusa no dia do Juízo.
Por Deus, tratemos de saber como os homens hão de salvar-se, e ponhamos mãos à
obra. É detestável desperdício ficar sempre a discutir quanto ao modo certo de fazer
pão enquanto uma nação perece de fome. Já é tempo de sabermos o que ensinar, ou
então de renunciar ao nosso oficio. "Aprender sempre, e nunca chegar à
verdade" é o lema dos piores homens, não dos melhores. Vi em Roma a
estátua de um rapaz tirando um espinho do pé. Fui-me embora. Um ano depois
voltei, e lá estava sentado o mesmíssimo rapaz, tirando ainda o corpo estranho.
Será este o nosso modelo? "Amoldo o meu credo toda semana",
confessou-me um desses teólogos. A que assemelharei esses inconstantes? Não são
como aquelas aves que aparecem no Cabo de Ouro, no estreito de Bósforo, e se
podem ver de Constantinopla, das quais se diz que estão sempre batendo as asas,
nunca em repouso? Ninguém jamais as viu pousar na água ou na terra. Estão sempre
pairando em pleno ar. Os nativos lhes chamam "almas perdidas", sempre
a buscar descanso em vão.
Com toda a certeza, homens que não acham repouso
pessoal na verdade, se não é que eles mesmos não se salvam, ao menos têm pouca probabilidade
de salvar outros. Aquele que não tem
nenhuma verdade segura para transmitir, não deve admirar-se de que os seus ouvintes
depositem pouca confiança nele. Temos que conhecer a
verdade, compreendê-la, e retê-la com mão firme, ou não poderemos esperar levar
outros a crer nela. Irmãos, eu os responsabilizo: procurem conhecer e discernir;
depois, aplicado o discernimento, lutem
para arraigar-se e alicerçar-se na verdade. Mantenham em pleno
funcionamento os processos de encher o celeiro, joeirar o cereal e armazená-lo.
Assim, em sua vida mental, irão avante.
2. Precisamos ir avante nas qualificações oratórias. Estou começando do
fundo, mas mesmo este ponto é importante, pois é uma pena que até os pés desta
imagem sejam de barro. Daquilo que possa ter alguma utilidade ao nosso
propósito, nada é fútil. Só pela perda
de um
cravo, o cavalo perdeu a ferradura, e deixou de
servir para a batalha. Aquela ferradura era apenas uma banal tira de ferroa
ferir o solo. Entretanto, ainda que o lombo esteja cingido de raios e trovões,
de nada vale se se perdeu a ferradura. Uma pessoa pode ficar irremediavelmente arruinada
por inutilidade espiritual, não porque falhe no caráter ou no
espírito, mas porque fraqueja no intelecto ou na
oratória.
Portanto, comecei com estes pontos, e torno a
observar que devemos melhorar na alocução. Nem todos podem falar como alguns, e
nem mesmo estes podem atingir a sua eloqüência ideal. Se há algum irmão aqui
que pensa que pode pregar tão bem como deve, advirto-o a
desistir de uma vez. Fazendo-o estará agindo tão
sabiamente como o grande pintor que quebrou a sua paleta e, virando-se para a
esposa, disse:
"Meus dias de pintar passaram, pois já me
satisfiz e, portanto, ser que o meu
poder se foi." Ainda que existam outras perfeições atingíveis, tenho a
certeza de que aquele que acha que conseguiu perfeição na oratória, confunde
eloqüência com volubilidade, e argumento com verbosidade. Seja qual for o seu
conhecimento, Não poderão ser ministros verdadeiramente eficientes, se não
forem "aptos para ensinar."
Vocês sabem de ministros que erraram a vocação e,
evidentemente, não têm dons para exercê-la. Certifiquem-se de que ninguém pense
a mesma coisa de vocês. Há colegas de ministério que pregam de modo intolerável:
ou nos provocam raiva, ou nos dão sono. Nenhum anestésico pode igualar-se a
alguns discursos nas propriedades soníferas. Nenhum ser humano que não seja
dotado de infinita paciência poderia suportar ouvi-los, e bem faz a natureza em
libertá-lo por meio do sono.
Outro dia ouvi alguém dizer que certo pregador não
tinha mais dons que uma ostra, para o ministério. Em minha opinião, foi um
ultraje á ostra, pois esse nobre bivalve demonstra grande descrição em seus intróitos,
e sabe quando deve concluir. Se alguns fossem condenados a ouvir os seus
próprios sermões, teriam merecido julgamento, e logo clamariam com Caim:
"É tamanho o meu castigo, que já não posso suportá-lo." Oxalá não
caíamos sob a mesma condenação.
Irmãos, devemos cultivar clareza de estilo. Quando
um homem não me faz entender o que quer dizer, é porque nem ele mesmo sabe o
que quer dizer. O ouvinte mediano, incapaz de seguir o curso do pensamento do
pregador, não devia ficar aborrecido consigo, mas censurar o pregador, cuja
obrigação é apresentar o assunto com clareza. Se olharmos dentro de um poço, se
estiver vazio nos parecerá muito fundo, mas se houver água nele, veremos a
claridade refletida. Creio que muitos pregadores "profundos" são
assim apenas porque são como poços secos, sem nada dentro, exceto folhas
podres, algumas pedras, e talvez um ou dois gatos mortos. Se houver águas vivas
em sua pregação, esta pode ser muito profunda, mas a luz da verdade lhe dará
clareza. Não basta falar de modo tão claro que vocês sejam compreendidos; devem
falar de modo que não sejam mal compreendidos.
Além da clareza, devemos cultivar um estilo
convincente. Nosso discurso deve ser poderoso. Alguns imaginam que isto
consiste em falar alto, mas posso garantir-lhes que laboram em erro. Rugir não melhora um tolice. Deus não nos
pede que gritemos como se estivéssemos falando a dez mil pessoas, quando nos
dirigimos a trezentas somente.
Sejamos convincentes em razão da excelência do
assunto e da energia de espírito que aplicamos à apresentação dele. Numa
palavra, vejamos que o nosso falar seja natural e vívido. Espero que já
tenhamos anatematizado os truques dos oradores profissionais– os efeitos forçados,
o clímax calculado, a pausa planejada, o
pavonear teatral, a declamação artificiosa das palavras, e não sei que
mais – que podem ver em certos clérigos pomposos que ainda sobrevivem na face
da terra.
Oxalá dentro em pouco sejam eles espécies extintas.
Oxalá todos nos aprendamos um modo simples, natural e vivo de falar do
evangelho, porque estou persuadido de que esse estilo é o que tende a ser
abençoado por Deus.
Entre muitas outras coisas, precisamos cultivar a
persuasão. Alguns irmãos exercem grande influência sobre as pessoas, ao passo que outros, dotados de maiores dons,
são nulos nisso. Estes parecem que não tomam contato com as pessoas, não as
cativam e não tocam sua sensibilidade.
Há pregadores que, em seus sermões, parecem pegar
um por um dos ouvintes pela gola, e enfiar direto em suas almas a verdade.
Outros generalizam tanto, e além disso são tão frios, que fazem pensar que
estão falando de habitantes de algum planeta remoto, cujos assuntos não lhes interessam
muito. Aprendam a arte de pleitear com os homens. Farão bem isso se olharem com
freqüência para o Senhor. Se bem me lembro, o velho conto clássico diz-nos que,
quando um soldado estava para matar Dario, o filho deste, que era mudo desde a
infância, de repente gritou surpreso: "Você não sabe que ele é o
reí?" Sua língua silenciosa foi solta pelo amor a seu pai. Bem pode
acontecer que a nossa língua encontre fala vigorosa quando virmos o Senhor
crucificado por causa do pecado.
Se houver alguma fala em nos, isto a levantará. Também
o conhecimento dos terrores do Senhor nos há de ativar para persuadirmos os
homens. Não podemos fazer outra coisa que insistir com eles para que se
reconciliem com Deus. Irmãos, observem aqueles que amorosamente conquistam
pecadores para Jesus. Descubram o seu segredo, e não descansem enquanto não obtiverem
o mesmo poder. Se vocês os acham muito simples e toscos, mas vêem que eles são
realmente úteis, diga cada uma si próprio: "É esse o meu modelo." Se,
por outro lado, ouvem um pregador muito admirado, e, ao pesquisarem, vêem que
almas não se convertem salvadoramente,
cada qual diga a si mesmo: "Isto não é para mim, pois não estou procurando
ser grande, e, sim útil de fato." Portanto, vejam que a sua oratória
melhore constantemente em clareza, em poder de convicção, em naturalidade e em
persuasão.
Diletos irmãos, tentem conseguir um estilo de
alocução tal que os leve a adaptar-se
aos seus ouvintes. Muita coisa depende disso. O pregador que se dirigisse a
ouvintes com bom grau de instrução em linguagem que usaria ao falar a um grupo
de feirantes se mostraria louco. Por outro lado, aquele que se põe entre
mineiros e carvoeiros empregando
expressões técnicas da teologia e frases próprias das salas de recepção, age
como idiota. A confusão de língua sem Babel foi mais completa do que
imaginamos. Não deu línguas diferentes a grandes nações apenas, mas fez com que
a fala de cada classe diferisse das outras. Um sujeito de um mercado de peixes
como Billingsgate não pode entender um figurão de Brasenose College, Oxford.
Agora, como o feirante não pode aprender o
linguajar universitário, que o universitário trate de aprender o linguajar do
feirante. "Empregamos a linguagem do mercado", dizia Whitefield, e
isto o honrava muito. Todavia, quando se levantava no salão da condessa de Huntingdon,
e a sua palavra encantava os nobres descrentes que ela trazia para ouvi-lo,
adotava outro estilo. Sua linguagem era igualmente clara em cada caso, porque
era igualmente familiar aos ouvintes.
Não usava ipsissima verba, caso em que a
sua linguagem perderia a clareza num ou outro caso e, ou seria baixo calão para
a nobreza, ou grego para o povo comum. Em nossa maneira de falar devemos
procurar ser "tudo para todos." O maior mestre da oratória é aquele
que é capaz de dirigir-se a qualquer classe de pessoas de maneira adequada à
condição delas, e de molde a tocar-lhes o coração.
Irmãos, não deixemos que ninguém seja melhor do que
nós na capacidade de falar; Não deixemos que ninguém nos sobrepuje no domínio
da nossa língua materna. Amados companheiros de armas, nossas línguas são as
espadas que Deus nos deu para que as usemos por Ele, tal como se disse de nosso
Senhor: "Da sua boca saía uma aguda espada de dois fios." Afiem bem
essas espadas. Cultivem a sua capacidade de falar, e estejam entre os maiores
do território na transmissão oral. Não
os exorto por achar que sejam notadamente deficientes. Longe disso, pois toda
gente me diz: "Conhecemos os seus alunos pelo falar claro e destemido
deles." Isto me leva a crer que vocês têm em si grandes porções do dom, e
lhes rogo que dêem duro para aperfeiçoá-lo.
3. Irmãos, temos que ser mais zelosos ainda em ir
avante nas qualidades morais. Oxalá os pontos que vou mencionar se prestem aos que
deles necessitam, mas eu lhes asseguro que não tenho nenhum de vocês
particularmente em mira. Desejamos subir ao mais elevado gênero de ministério
e, sendo assim, ainda que obtenhamos qualificações intelectuais e oratórias,
falharemos se não possuirmos também altas qualidades morais.
Há males que devemos sacudir de nós como Paulo
sacudiu da mão a víbora, e há virtudes que devemos obter a qualquer custo. A
auto-indulgência já matou os seus milhares. Tremamos ante o perigo de perecer
às mãos dessa Dalila. Tratemos de manter todas as paixões e hábito sob a devida
sujeição. Se não formos senhores de nós mesmos, não estaremos aptos a ser
dirigentes na igreja.
Temos que por fora toda idéia de importância
pessoal nossa. Deus não abençoará o homem que se considera grande. Gloriar-se
mesmo na obra de Deus o Espírito em você é pisar perigosamente perto da
adulação própria. "Louve-te o estranho, e não a tua boca" – e fiquem contentes quando esse estranho tiver
bastante bom sonso para segurar a língua.
Também precisamos dominar o nosso temperamento. O temperamento
forte não é totalmente um mal. Homens
chochos como sapatos velhos geralmente são de pouco valor. Eu não lhes
diria: "Caros irmãos, tenham gênio forte", mas lhes digo: "Se o
têm, tratem de dominá-lo cuidadosamente." Dou graças a Deus quando vejo um
ministro com temperamento suficientemente forte para indignar-se com o erro, e
para manter-se firme por aquilo que é reto. Contudo, o temperamento forte é uma
ferramenta cortante, e muitas vezes fere aquele que o manuseia. "Gentil,
sensível aos rogos"– preferindo sofrer o mal antes de infligi-lo, este
deve ser o nosso espírito. Se algum irmão aqui ferve depressa demais, saiba que
ao fazê-lo não escalda a ninguém senão ao diabo, e então é melhor que se
evapore.
Precisamos – especialmente alguns de nós – vencer
nossa tendência para a leviandade. Existe grande distinção entre a santa jovialidade, que é uma virtude, e
aquela leviandade geral, que é um
defeito moral. Há uma leviandade que não tem suficiente ânimo para rir,
mas que zomba de tudo; é irreverente, fútil e falsa. A risada sincera não
constitui leviandade, mais que o choro sincero. Falo daquela capa religiosa que é pretensiosa, mas rala,
superficial e insincera quanto às questões de peso.
Piedade não é brincadeira. Nem mera formalidade.
Cuidem-se para não serem atores. Nunca dêem a pessoas sérias a impressão de que
vocês não crêem no que dizem, e que não passam de profissionais. Ter fogo nos lábios
e gelo na alma é nota de reprovação. Deus nos livre de sermos superfinos e
superficiais. Oxalá jamais sejamos as
borboletas do jardim de Deus.
Ao mesmo tempos, devemos evitar tudo que lembre a
ferocidade da intolerância. Conheço uma classe de pessoas religiosas que, não
tenho dúvida, nasceram de mulher, mas parecem ter sido amamentadas por uma
loba. Não lhes faço ofensa; não foram criados assim Rômulo e
Remo, fundadores de Roma? Alguns homens belicosos
dessa ordem tiveram bastante poder intelectual para fundar dinastias do
pensamento.
Mas a bondade humanitária e o amor fraternal
associam-se melhor ao reino de Cristo. Não devemos sair pelo mundo à capa de
heresias, como cães terrier farejando
ratos. Tampouco haveremos de confiar tanto em nossa infalibilidade, a ponto de
levantarmos pelourinhos eclesiásticos para neles queimar todos os que diferem
de nós, Não, é certo, com feixes de lenha, mas com aquele carvão de zimbro, que
consiste de forte preconceito e desconfiança cruel. Em acréscimo a isso tudo,
há maneirismos, caprichose comportamentos que não posso descrever agora, contra
os quais devemos lutar. Sim, porque pequeninas falhas muitas vezes podem ser a causa
do fracasso, e libertar-nos delas pode ser o segredo do sucesso.
Não menoscabem aquilo que mesmo em diminuto grau
estorva a sua ação proveitosa. Expulsem do templo da sua alma as bancas dos vendedores
de pombas, bem como dos comerciantes de ovelhas e vacas.
Além disso, diletos irmãos, precisamos adquirir
certos hábitos e faculdades morais, bem como lançar fora os seus opostos.
Aquele que não tem integridade de espírito jamais fará muito pela causa de
Deus. Se nos orientarmos pela política, se adotarmos qualquer modo de agir que
não seja reto, em pouco tempo naufragaremos.
Caros irmãos, estejam dispostos a ser
pobres, a ser desprezados, a perdera vida – não, porém, a agir desonestamente.
Que para vocês a única política seja a honestidade.
Oxalá possuam também a grande característica
moral da coragem. Por esta não queremos
dizer impertinência, atrevimento ou presunção, mas a verdadeira coragem de
fazer e dizer calmamente a coisa certa, e ir em frente em todas as
circunstâncias, ainda que não haja ninguém para dizer-lhe uma boa palavra.
Espanta-me o número de cristãos que têm medo de falar a verdade aos seus irmãos
na fé. Graças a Deus, posso dizer que não há um membro da minha igreja, nenhum
oficial da igreja, e nenhum homem do mundo a quem eu tema dizer na frente o que
diria em sua ausência. Abaixo de Deus, devo minha posição em minha igreja à ausência
de toda política, e ao hábito de dizer o que penso. A idéia de tornar as coisas
agradáveis a todos é perigosa e iníqua. Se você diz uma coisa a um homem, e
outra a outro, um dia eles compararão as
notas, e você será posto a descoberto e será desprezado. O homem de duas caras
mais cedo ou mais tarde será objeto de desdém, e com razão. Acima de tudo,
evitem a covardia, pois esta torna mentirosos os homens. Se tiverem que dizer
algo acerca de uma pessoa, seja esta a medida
do que digam – "Quanto ousarei dizer na presença dela?" Não se devem
permitir sequer uma palavra mais de censura a qualquer ser vivente. Se a sua
regra for esta, a sua coragem os livrará
de mil dificuldades, e lhes granjeará respeito duradouro.
Tendo integridade e coragem, diletos irmãos,
oxalá sejam dotados de zelo indômito.
Zelo? Que é isso? Como o descreverei? Tratem de
possuí-lo, e saberão o que é. Deixem-se consumir de amor a Cristo, e vejam que
a chama continue a arder ininterruptamente não ardendo em chamas vivas nas
reuniões públicas, e morrendo no trabalho rotineiro de cada dia.
Necessitamos perseverança indomável, resolução
infatigável, e uma combinação de piedosa obstinação, abnegação, amabilidade
santa e coragem invencível.
Aprimorem-se também numa capacidade que é ao
mesmo tempo moral e intelectual, a
saber, a capacidade de concentrar todas as suas forças na obra a que foram
chamados. Colijam os seus pensamentos, reúnam todas as suas faculdades, juntem
as suas energias, focalizem as suas capacidades. Despejem todos os mananciais
da sua alma num só canal, fazendo-o jorrar para diante numa só corrente
indivisa. A alguns falta essa qualidade. São dispersivos, e fracassam. Juntem
os seus batalhões e lancem-nos sobre o inimigo. Não tentem ser grandes nisto e naquilo – ser "tudo
em turnos, e nada duradouramente", mas consintam que toda a sua natureza
seja levada cativa por Jesus Cristo, e deponham tudo aos pés dAquele que
derramou o Seu sangue e morreu por vocês.
4. Acima disso tudo, precisamos de qualificações
espirituais, graças que hão de ser desenvolvidas em nós pelo Senhor. Estou
certo de que esta é a principal questão. Outras coisas são preciosas, mas esta
não tem preço. Devemos ser ricos para com Deus.
É necessário que nos conheçamos a nós mesmos. O
pregador deve ser grande na ciência do coração, na filosofia da experiência
interior.
Existem duas escolas de experiência, e nenhuma tem
prazer em aprender da outra. Tenhamos satisfação em aprender de ambas. Uma fala
de filho de Deus como alguém que conhece a profunda depravação do seu coração,
que compreende a asquerosidade da sua natureza, e diariamente sente que em sua
carne não habita bem algum. "O homem que não sabe e não sente isso",
dizem os dessa escola, "e que o sente mediante amargasse penosos
experiências do dia a dia, não tem em si, a vida de Deus." É inútil
falar-lhes da liberdade e da alegria no Espírito Santo. Não as têm.
Aprendamos desses irmãos unilaterais. Sabem muito
daquilo que se deve saber. Ai do ministro que ignora o seu conjunto de verdades. Martinho Lutero costumava dizer que
a tentação é o melhor mestre do ministro. Há verdade nesse lado da questão. Outra
escola de crentes detém-se demoradamente na gloriosa obra do Espírito de Deus.
Tais irmãos fazem bem. E bem-aventurados são por isso. Crêem no Espírito de
Deus como um poder purificador, que varre
os estábulos imundos da alma e faz dela um templo
para Deus. Mas freqüentemente falam como se não pecassem mais, ou se não fossem mais importunados por
tentações. Gloriam-se como se já tivessem terminado a batalha e obtido a
vitória. Aprendamos desses irmãos.
Tratemos de conhecer toda a verdade que nos
possam ensinar. Familiarizemo-nos com os
picos culminantes e com a gloria que neles fulge, com os montes Hermom e Tabor
onde podemos transfigurar-nos com nosso Senhor. Não temam ficar demasiado
santos. Não temam
encher-se demais do Espírito Santo. Gostaria que
vocês fossem sábios dos dois lados, e capazes de lidar com as pessoas, tanto em
seus conflitos como em suas alegrias, familiarizados com ambos os tipos de
experiência. Saibam onde Adão os deixou; saibam onde o Espírito de Deus os
colocou. Não se limitem a saber um
desses aspectos tão exclusivamente que esqueçam o outro.
Creio que se há homens tendentes a clamar:
"Miserável homem que eu sou! Quem me livrará do corpo desta morte?"
serão sempre os ministros, porque temos que ser tentados em todos os pontos,
para podermos consolar outros.
Num vagão de trem eu vi, na semana passada, um
pobre homem com a perna estendida sobre o assento. Um funcionário, vendo-o
nessa posição, observou-lhe: "Estes estofados não foram feitos para você
pôr neles as suas botas sujas." Logo que o guarda se foi, o homem tornou a
estender a perna, e me disse: "Estou certo de que ele nunca fraturou a perna
em dois lugares, ou não seria tão duro comigo." Quando ouço irmãos que
vivem comodamente, com boa renda, condenarem outros muito provados, por não se
alegrarem estes como aqueles, percebo que nada sabem dos ossos quebrados que
outros têm que arrastar durante toda a sua peregrinação.
Irmãos, conheçam o homem em Cristo e fora de
Cristo. Estudem-no em seu melhor e em seu pior estado. Conheçam a sua anatomia, os seus segredos e as suas paixões.
Não podem fazer isso por meio de livros. Precisam ter experiência espiritual pessoal.
Somente Deus lhes pode dar isso.
Dentre todas as aquisições espirituais, é
necessário além de todas as outras coisas, conhecer Aquele que é o remédio
certo para todas as doenças. Conheçam Jesus. Sentem-se a Seus pés. Considerem
Sua natureza, Sua obra, Seus sofrimentos, Sua gloria. Regozijem-se em Sua presença
– tenham comunhão com Ele, dia após dia. Conhecer a Cristo é compreender a
ciência mais excelente. Vocês não podem deixar de ser sábios, se tiverem
comunhão com a sabedoria. Não lhes poderá faltar força, se tiverem comunhão com
o poderoso Filho de Deus.
Outro dia vi numa gruta italiana urna minúscula
samambaia crescendo num local onde as suas folhas cintilavam e dançavam continuamente sob os borrifos de
uma fonte. Estava sempre verde. Nem a
sequidão do estio, nem o frio do inverno a afetavam. Assim, vivamos sempre sob
a doce influência do amor de Jesus. Permaneçam em Deus, irmãos. Não O visitem
ocasionalmente, mas habitem nEle. Na Itália se diz que onde não entra o sol,
entra o médico. Onde não brilha Jesus, a
alma está doente. Aqueçam-se aos raios de Sua luz, e vocês serão
vigorosos no serviço do Senhor.
Domingo passado, à noite, usei um texto que me
empolgou:
"Ninguém conhece o Filho, senão o Pai."
Disse eu aos ouvintes que os pobres pecadores que tinham vindo a Jesus e
confiaram nEle pensavam que O conheciam, mas conheciam apenas um pouco dEle.
Santos com sessenta anos de experiência, que andavam todo dia com Ele, acham
que O conhecem. Contudo, são apenas principiantes ainda. Os espíritos perfeitos
perante o trono, que durante milênios O adoram perpetuamente, talvez pensem que
O conhecem, mas não O conhecem plenamente.
"Ninguém conhece o Filho, senão o Pai."
Cristo é tão glorioso que somente o Deus infinito tem pleno conhecimento dEle.
Portanto, não haverá limite para o nosso estudo, nem estreiteza em nossa linha
de pensamento, se fizermos de nosso Senhor o grande objeto de todas as nossas
meditações. Irmãos, como resultado disso, se é que havemos de ser homens fortes,
temos que amoldar-nos a nosso Senhor. Oh, ser como Ele! Bendita a cruz em que
sofrermos, se sofrermos para tornar-nos semelhantes
ao Senhor Jesus. Se nos amoldarmos a Cristo, teremos prodigiosa unção sobre o
nosso ministério, e sem isso, de que vale um ministério?
Numa palavra, precisamos esforçar-nos pela
santidade de caráter. Santidade, que é? Não é integridade de caráter? Uma condição
equilibrada em que não há falta nem excesso? Não é moralidade. Esta é uma estátua fria e sem
vida. Santidade é vida. Vocês têm que ter santidade. E, amados irmãos, se
falharem nas qualificações intelectuais (como espero que não), e se tiverem
escassa medida de poder oratório (como
creio que não), todavia, confiem nisto: uma vida santa é, em si mesma, um poder
maravilhoso, e suprirá muitas deficiências. É, de fato, o melhor sermão que o
melhor homem pode pregar. Tomemos a resolução de que toda a pureza que se possa
ter, teremos, que toda a santidade que se possa alcançar, obteremos, e que toda
a semelhança com Cristo que seja possível neste mundo de pecado, por certo
haverá em nós, mediante a obra do Espírito de Deus. O Senhor nos eleve a todos,
como colégio, a uma tribuna mais alta, e Ele terá a gloria!
5. Caros irmãos, ainda não terminei. Tenho que
dizer-lhes: vão avante no trabalho prático, pois, no fim das contas, seremos
conhecidos pelo que tivermos feito. Devemos ser tão poderosos em atos como na palavra.
Há bons irmãos no mundo que não são nada
práticos. A grandiosa doutrina da
segunda vinda os faz ficar de boca aberta, com os olhos nos céus, de modo que
me disponho a dizer: "Varões de Plymouth, por que estais olhando para o
céu?" O fato de que Jesus está para vir não é razão
para contemplação das estrelas, mas, sim, para
trabalhar no poder do Espírito Santo. Não se deixem levar tanto por
especulações, que cheguem a preferir ler uma obscura passagem do Apocalipse a
ensinar numa escola de maltrapilhos, ou discursar aos pobres sobre Jesus. É preciso
que acabemos com os sonhos à luz do dia, e que nos lancemos ao trabalho.
Acredito em ovos, mas temos que fazer com que saiam frangos deles. Não importa
o tamanho do ovo. Pode ser ovo de avestruz, se quiserem, mas, se não houver
nada nele, fora com a casca! Se sair alguma
coisa dele, Deus abençoe as suas especulações, e mesmo que vocês vão um pouco
além do que julgo sábio aventurar-se, ainda assim, se isso os tornar mais
úteis, louvado seja Deus!
Queremos fatos – ações realizadas, almas salvas.
Está bem que se escrevam ensaios. Mas, quais almas vocês impediram de ir para o inferno? A maneira excelente
como dirigem a sua escola interessa-me.
Mas, quantas crianças foram trazidas para a igreja por
meio dela? Alegra-nos ouvir daquelas reuniões especiais. Mas, quantos realmente
nasceram de novo nelas? Os santos são edificados? Convertem-se pecadores? Balançar
para lá e para cá num portão de cinco travas não é progresso, conquanto alguns
parecem pensar que sim. Vejo-os num perpétuo Elísio, sussurrando para si mesmos
e para os amigos: "Estamos muito bem acomodados." Deus nos livre de
viver confortavelmente, enquanto os pecadores afundam no inferno.
Viajando pelas estradas das montanhas da Suíça,
vêem-se continuamente marcas de perfuratrizes; e na vida de todo ministro devem
existir trapos de duro labor. Irmãos, façam alguma coisa; façam alguma coisa; façam alguma
coisa. Enquanto as comissões desperdiçam tempo em deliberações, façam alguma
coisa. Enquanto as sociedades e uniões elaboram estatutos, ganhemos almas.
Muitas vezes discutimos, discutimos, e discutimos, e Satanás ri-se à socapa. É
tempo de parar de planejar e de procurar o que planejar. Rogo-lhes, sejam
homens de ação, todos vocês. Mãos à obra, e tratem de sair-se como homens. A idéia de guerra do velho Suvarov é
também a minha: "Avançar e lutar! Nada de teorias! Ao ataque! Formar
fileiras! Baionetas á carga! Afundem no centro do inimigo!" Nosso único
objetivo é salvar almas, e isto não é coisa para comentar, mas para fazer no
poder de Deus.
6. Finalmente, e aqui vou entregar-lhes uma
mensagem que pesa sobre mim – prossigam avante na questão da escolha da sua esfera de ação. Rogo hoje por
aqueles que não podem rogar por si, a saber, as grandes multidões do mundo
pagão, em outras terras.
Os nossos púlpitos atuais estão toleravelmente bem supridos,
mas temos necessidade de homens que edifiquem sobre novos alicerces. Quem o
fará? Estamos nos, como uma companhia de homens fiéis, com a consciência
esclarecida acerca dos pagãos? Milhões há que nunca ouviram o nome de Jesus.
Centenas de milhões viram um missionário só uma vez em suas vidas, e nada sabem
do nosso Reí. Deixaremos que pereçam? Podemos ir para a cama e dormir enquanto
a China, a Índia, o Japão e outros países estão sob condenação? Estamos limpos
do sangue deles? Não têm eles direito sobre nós? Devemos colocar a coisa neste
pé:
"Posso provar que não devo ir?" e Não:
"Posso provar que devo ir?" Quando alguém pode provar honestamente
que não deve ir, está absolvido; de outra forma, não.
Meus irmãos, que resposta darão? Apresento-lhes a
questão pessoa por pessoa. Não lhes levanto uma questão que eu não tenha
apresentado honestamente a mim mesmo. Tenho pensado que, se alguns dos nossos principais
ministros fossem, causaria grande efeito, dando incentivo ás igrejas, e me
perguntei sinceramente se eu devia ir. Depois de pesar todos os pontos,
senti-me levado a manter o meu lugar. Creio que o julgamento da maioria dos
cristãos seria o mesmo. Mas creio que iria alegremente se esse fosse o meu
dever. Irmãos, procurem situar-se pelo mesmo processo. Temos que levar os
pagãos a converter-se. Deus tem miríades de eleitos Seus entre eles.
Compete-nos ire procurá-los, até encontrá-los. Muitas dificuldades foram
removidas, as terras estão todas abertas
para nós, e as distâncias foram anuladas. É certo que não temos o dom
pentecostal de línguas, mas rapidamente se aprendem línguas, enquanto que a
arte de imprimir equivale bem ao dom perdido. Os perigos próprios das missões
não deveriam segurar nenhum homem de verdade, ainda que fossem muito grandes,
mas estão agora reduzidos ao mínimo. Há
centenas de lugares em que a cruz de Cristo é desconhecida, lugares aos quais
podemos ir sem risco. Quem irá? Devem ir os irmãos jovens, bem dotados, e que
não tomaram ainda responsabilidades de família.
Todo estudante, ao matricular-se nesta escola, deve
considerar esta matéria, e entregar-se à obra, a menos que haja razões concludentes
para não fazer isso. É um fato que, mesmo para as colônias, é bem difícil encontrar
homens, pois tive oportunidades na Austrália que fui obrigado a declinar. Não
devia ser assim. Decerto existe ainda algum sacrifício próprio entre nós, e
alguns de nós estão dispostos a exilar-se por Jesus. A missão desfalece por
falta de homens. Se aparecessem os homens, a liberalidade da igreja supriria as
necessidades deles. De fato a liberalidade da igreja já fez a provisão dos
recursos, mas, apesar disso, não há homens para ir. Irmãos, jamais acharei que
nós, como um grupo de homens, cumprimos o nosso dever enquanto não virmos companheiros
nossos lutando por Jesus em todas as terras, situados na
vanguarda do conflito. Creio que, se Deus os
impulsionar a irem, estarão entre os melhores missionários, porque farão da
pregação do evangelho o traço dominante do seu trabalho, e é esse o caminho certo
de Deus para o poder.
Gostaria que as nossas igrejas imitassem a do
pastor Harms, da Alemanha, na qual cada membro era consagrado a Deus, de fato e
de verdade. Os fazendeiros davam os produtos de suas terras, os operários seu
trabalho. Alguém deu uma casa grande para o funcionamento de uma escola da missão.
O pastor Harms obteve dinheiro para um navio, que ele equipou, para viagens à
África. Daí, enviou missionários, e pequenos grupos de sua igreja com eles,
para formar comunidades cristãs entre os boximanes. Quando é que as nossas
igrejas vão ser assim abnegadas e dinâmicas? Vejam os morávios! Como cada homem
e mulher se torna um missionário, e quanto fazem em conseqüência! Captemos o
espírito deles. É certo esse espírito? Então é certo possuí-lo.
Não nos basta dizer: "Esses morávios são gente
extraordinária!" Devemos ser extraordinários também. Cristo não resgatou
os morávios mais do que a nós. Eles não têm maior obrigação de fazer
sacrifícios do que nós. Então, por que esta negligência? Quando lemos sobre
homens
heróicos, que entregaram tudo por Jesus, não
devemos admirá-los simplesmente, mas imitá-los.
Quem os imitará agora? Decidamos de uma vez! Não há
alguns de vocês desejosos de consagrar-se ao Senhor? "Avante" é a
palavra-senha hoje! Não há espíritos valentes que tomem a vanguarda? Orem todos
para que, durante este Pentecoste, o Espírito diga: "Apartai-me a Barnabé
e a Saulo para a obra."
Avante! Em nome de Deus, AVANTE!!
Compilado por: Cleber Renato
Artigo Extraído do Livro: Lições aos Meus
Alunos de C. H. SPURGEON
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